31 de março de 2011

Ismael Lô - Nafanta


É a segunda música que ponho aqui do Ismael Lô.
Despertam-me sensaçoes!

Sugiro que para ouvir esta fechem a porta, isolem-se, deixem a música entrar e dancem como o corpo mandar, esqueçam tudo!

30 de março de 2011

O que os outros lêem sobre nós

Companies & Markets é um apêndice que vem com o Financial Times e no número da passada terça-feira Portugal teve direito a uma coluna apertada - mas que ainda assim ocupava mais de metade da página - ao lado de uma grande foto de Jiang Jianqing que completava o artigo central: ICBC head plays down post-crisis loan risk, pouco importante para o caso.

Sobre Portugal dizia-se:

S&P cuts ratings of Portugal´s top five banks


Standard & Poor's has cut the credit ratings of Portugal´s fice largest banks and warned it could cut the country's sovereign debt rating for a second time within a week following the resignation of José Sovrates, the outgoing prime minister.
The bank downgrades follow S&P's decision to cut Portugal's long-term sovergein debt credit rating by two notches to triple B on Friday, after collapse of the sociallist of the Socialist government plunged the country into a period of political and financial uncertainty.
The rating agency warned on Monday that a further cut in Portugal's sovereign rating " could take place as early as this week". That would lower the rating to triple B minus one level above junk status.
The warning came as Aníbal Cavaco Silva, Portugal's President, continued consultations on resolving the crisis. He is expected to convene the Council of State, his main advisory body, this week to set a data for early elections, probably on May 29 or June 5.
After separate meetings with political leaders, Mr Cavaco Silva said on Monday that the three largest parties had expressed an "unequivocal commitment" to meeting the deficit reduction targets agreed by the outgoing government with the European Union.
S&P lowered the long-term rating of four banks - Banco Espirito Santo, Banco BPI, Caixa Geral de Depósitos and Banco Santander Totta - to triple B, in the line with the agency's sovereing rating ofr Portugal. The previous ratings were A for Santander Totta and A minus for BES, BPI and CGD.
The agency cut Millenium BCP's long-term rating from triple B plus to B minus.
Elena Iparraguirre, a credit analist with S&P, said that the banks had been downgraded because of an "increasingly difficult economic, finantial and operating environment in Portugal".
She said increasing policy uncertainty as a result of the political crisis would further undermine "already very weak confidence, increasing the funding difficulties of Portuguese banks", which have been forced to rely heavily on financing from the European Central Bank
Efforts to deal with funding difficulties by selling of international loans, reducing financial portfolios and increasing deposits would rein back lending and increase price competitions for retail deposits, she added.
This would put pressure on domestic demand and the ability of borrowers to pay off loans, "magnifying the negative effect if Portugal`s regression" on the domestic asset quality and profitability of Portuguese banks."

By Peter Wise in Lisbon

Acima de tudo, um artigo bem escrito: informativo, nao opinativo; gostava de ler mais assim noutros jornais.

The Dream

Encontro europeu de todas as Silicone House, este fim de semana, Göttingen:

D é a representante da Irlanda, A é o chefe de produçao da sede Alema, I... bem, I é o Tuga do sítio que representa a nossa Península!

D - (com o típico sotaque Irlandês muito engraçado) - Yeah but well... I can't read at night because I will dream about the book! I dream every night. (de repente passa-se como se lhe tivessem ditado os números do próximo euromilhoes!) OH... did you have The Dream?
I - What dream?
D - The Dream! You didn't have The Dream? .... A did you have The Dream?
A - The dream?
D - Yes The Dream A!
A - Well... I don't dream... I dont remember having a dream in decades!
D - Oh men... sorry dudes but you hadn't been iniciated then... you are not in! I am sorry!
I - But what are you talking about?
D - The Dream!!!!! I had a Professor in University that said that at least ones in your life you will dream that YOU are an amputee, and then you are in! I have The Dream at least twice a year! Its always the same dream, I dream that I am a TF and its so awful!  You still didn't have The Dream? Sorry men... you are not in!


I still didn't have The Dream..........

26 de março de 2011

8%

Nao vou comentar muito do que se tem passado em Portugal! Para mim, estes temas sao muito complexos e para se debaterem assuntos desta seriedade é preciso fazê-lo com cabeça, tronco e membros! Por isso, deixo imediatamente essa pretensao de parte e teorizo apenas sobre um ou dois temas...

Dados interessantes: a instabilidade política que ocorre neste momento em Portugal - e eu tenho de culpar a oposiçao parlamentar porque continuo, mesmo agora que todos devem querer ir para o púlpito, a nao ver nenhuma soluçao apresentada por estes senhores, ao invés, vejo apenas frases soltas de revoluçao, liberdade e poder para povo, coisas que ficam bem mas que nao ajudam muito - faz-nos estar a pagar a nossa dívida pública, presente dia, a 8%!
Para aqueles que nao entendem bem o que este número significa... e nao sabem bem se é muito alto, mais ou menos ou baixo!
Espanha, o nosso vizinho, está neste momento a braços com o gravíssimo problema de pagar as dívidas também, como nós, e estao "mesmo à rasca" como já me disseram aqui, e estao a tentar tudo para conseguir paga-la o mais rápido possível porque claro, quanto mais tempo demorarem mais subirao os juros (aqueles que no nosso caso chegam já a 8% repito)... bem é que os juros deles estao elevadissimos já e nao pode ser... os juros da dívida publica espanhola estao quase a chegar à marca de 1%! E é um problema público!

Saberao muitos de voces que eu sempre gostei das politicas que o Socrates praticou, já disse aqui tambem que na verdade ele me tem deixado um bocado desapontado ultimamente porque gostava de vê-lo tomar algumas medidas e de forma diferente (apesar de continuar a ser o ministro que vejo com mais capacidade de governar Portugal), e realmente, parece que vou continuar a nao concordar com ele: foi a Bruxelas defender Portugal, deitar alguma areia para os olhos mais que limpos daquela assembleia e tentar dizer que seremos capazes de resolver os nossos problemas... pois... gostava que ele tivesse razao... entendo o que quer fazer... mas há alturas em que temos de olhar para o que temos e saber ver que... bem... nao era bem isto que eu queria ter! Demitiu-se, mas continua a querer o melhor para Portugal, mas penso que tenho de aceitar a derrota quando ela é evidente!
Digo-o e penso-o pela primeira vez, venha de lá o FMI para Portugal e vejam entao o que a cambada de pardalecos tontos que temos na oposiçao fizeram de Portugal... porque aí sim... aí sim vai ser a doer! Mas para este acho que nem vai ser mal, vao culpar o Socrates e pronto, quando este o que fez foi precisamente nao fazer nada, porque nao o deixaram e com isso acontecerá o que acontecerá! Veremos.

Respeito quem pense diferente... e se os argumentos forem válidos (eu próprio apresento poucos, neste caso,  para a minha solidariedade com o Sócrates) podemos debater política, senao, fazemos uma manifestaçao!

Quero ver Portugal em 4 meses! Nao será preciso mais... que desespero que estes assuntos me dao...

25 de março de 2011

Conversas com Deus - Livro 1

Ontem quando fazia a lista dos livros que recomendaria (entretanto já acrescentei mais que me fui lembrando) e ao lembrar-me do livro "Conversas com Deus" confesso que tive de ir ao Google para saber o nome do autor, nao me lembrava. E eis uma passagem que me apareceu do livro - deixo-a para que vejam um pouco daquilo em que acredito e para deixar, aos que lhes interessa, alguma vontade de o ler:


"Um verdadeiro Mestre não é o que tem mais alunos, mas o que cria mais Mestres.
Um verdadeiro líder não é o que tem mais seguidores, mas o que cria mais líderes.
Um verdadeiro monarca não é o que tem mais súbditos, mas o que conduz o maior numero deles à realeza.
Um verdadeiro professor não é o que possui o maior saber, mas o que faz com que a maioria dos outros o obtenha.
Um verdadeiro Deus não é o que tem mais servos, mas O que serve o maior numero de pessoas, tornando assim Deuses todos os outros.
Eis, portanto, o propósito e a glória de Deus: que os Seus súbitos deixem de sê-lo e que todos venham a conhecê-l'O não como o inatingível mas como o inevitável.
Gostaria que entendessem isto: o vosso destino feliz é inevitável. Não podem não ser "salvos". O único Inferno que existe é não sabê-lo."

24 de março de 2011

Os livros que eu li e recomendo

Sem ordem:


O Processo - Franz Kafka - será importante perceber o que é ser "kafkiano" para o apreciar, assim como entender o contexto em que foi escrito.

Werther - Göethe - a melhor história de amor trágico que já li... convém saber que foi proibida muitos anos por ter despoletado o "wertherismo" que levou a que bastantes jovens adolescentes se suicidassem por desgosto de Amor.

Fazes-me Falta - Inês Pedrosa - um registo muito diferente do habitual e se quiserem ler alguém a brincar com as palavras.

Siddhartta - Herman Hess - de uma genialidade suprema, top 5 seguramente, indicado especialmente a quem aprecie Siddhartta Gautama.

O Velho e o Mar - Ernest Hemingway - uma alegoria digna de caverna!

O Principezinho - Antoine de Saint-Exupéry - felizmente um cliché.

O Alquimista - Paulo Coelho - um bom livro, inspirado num conto das Mil e Uma Noites, fácil de ler.

Metamorfose - Franz Kafka - sempre o defini como "demasiado parvo, e fácil, para ser genial", até que percebi que o Kafka o escreveu enquanto falecida de tuberculose e fez todo o sentido!

O Idiota - Fiodor Dostoiévsky - em processo de leitura, mas como já disse, extraordinário, onde o autor pretende, nas suas palavras: "criar a imagem do homem positivamente bom".

O Lado Oculto da Memoria - nao me recordo do autor, português - ediçao de autor, uma relíquia que tenho em casa, só se vendia (há uns 10 anos) numa livraria em Viseu.

A Ilha da Mao Esquerda - Alexandre Jardin - um livro que todos os casais deviam ler, todos! E um orgulho em ser canhoto.

Veronika decide Morrer - Paulo Coelho - para se ler até ao fim ou senao ficasse com a sensaçao de... bem... realmente, vamos lá suidarmo-nos...

Conversas com Deus - Neale Walsch - independentemente de com quem acredita o autor que fala, descreve na perfeiçao o Deus em que acredito e recomendo vivamente!

Caim - José Saramago - em algumas partes demasiado violento com as crenças alheias, mas descreve bastantes das razoes pelas quais nao posso crer no Deus biblico. Nao recomendado a crentes!

Alice no País das Maravilhas - Lewis Caroll, ou melhor: Charles Dodgson - por ter de forma tao singela e pura iniciado um estilo que ninguém imaginava.

Intermitências da Morte - José Saramago - pela sátira e pela crítica.

Memorial do Convento - José Saramago - simplesmente porque está divino.

Os Maias - Eça de Queiroz - porque me ensinaram a ler.


Cem Anos de Solidao - Gabriel Garcia Marquez - o livro mais difícil que li até hoje, aconselho a lerem-no com um lápis e uma folha A4, nao, A3 e desenhem a árvores genealógica da familia Buendia, ou entao leiam com o Wikipédia ao lado, está lá desenhada...

2666 - Roberto Bolaño - esperava que tivesse ganho o Nobel o ano passado por esta sua obra póstuma, nao aconteceu, mas seria merecido. Sao 5 livros num só e como diz na capa "A vida humana inteira está dentro destas páginas ardentes".

As minhas pequenas memórias - José Saramago - deixei-o de parte quando mo ofereceram e nao pensava lê-lo, felizmente acabei por fazê-lo (a crise tem sempre algo de bom) e será um dos melhores que li de Saramago, sem dúvida.

Trilogia: A árvore do céu - Edith Pargeter - romance medieval onde a amizade, a honra, a nobreza, o carácter e as origens sao temas que encaixam na história como em nenhum outro livro.

Ensaio sobre a cegueira - José Saramago - para que se perceba que um livro pode mesmo fazer-nos vomitar (esteve quase).

O Perfume - Patrick Süskind - para que se perceba que um livro pode mesmo fazer-nos cheirar o que lemos, top 5 também.

A Viagem do Elefante - José Saramago - pelo humor!

A arte da guerra - Sun Tzu - para ser lido como uma alegoria que nao é e entendamos que o mundo nao mudou desde há vários milénios.

Breve História de Quase Tudo - Bill Bryson - quase todo o conhecimento humano num livro divertido e estranhamente fácil de ler, gostava de o gravar na minha cabeça.

Breve História do Saber - Charler van Doren - um apanhado histórico da evoluçao do conhecimento e das crenças dos nossos antepassados até aos dias de hoje. Faz-nos perceber o quao pequenos somos na História, como sao tolas muitas das nossas crenças, pela origem ou pela incoerência e como realmente tudo está em devir.


O Nome da Rosa - Umberto Eco - possivelmente o livro mais completo que li até hoje; uma narrativa perfeita com uma estória soberba.


Outros haveriam que mencionar... mas agora já é tarde e nao me recordo de mais nenhum... irei actualizado! Espero que vos valha de algo, gosto de recomendar e de que me recomendem livros!



Os que estao para ler este ano:

Terminar O Idiota
Fausto - Göethe
Os Seis Chapéus do Pensamento - Edward de Bono
Ensaio sobre a Lucidez - José Saramago
E se a coragem nao me faltar: Guerra e Paz - Tolstoi
Chegado à página 85 d' O Idiota, a cerca de 1/8 do seu total, consagro-o já como possivelmente o melhor livro que já li, destronando, ou pelo menos equiparando, O Nome da Rosa!

Nao sei como classifica-los... Brilhantes serao!

23 de março de 2011

"Momento Carrefour"

Acontece quando, em variadas circunstâncias da vida, passamos pelos mesmos sítios, há mesma hora, com a mesma disposiçao e à mesma velocidade! Olhamos para os mesmos sítios, cogitamos nas mesmas coisas, distraimo-nos com os mesmos placards e resmungamos com os mesmos condutores. Mas um dia, um dia como tantos outros, por qualquer motivo insondável no Cosmos, um dia, fazemos tudo isto e ... de repente ... um "clique", e.... "Olha... mas está um C alí no meio!"

Provérbios 7

Este vem da Rússia e será o equivalente do nosso: "Nao ponhas a carroça à frente dos bois"!
Sendo o Urso uma espécie de totem nacional faz sentido que o usem nestes ditos:


Nao dividas a pele do Urso sem o matar primeiro

21 de março de 2011

Noruz Mubarak

Feliz Ano Novo!

Hoje é o último dia do ano no calendário Persa. Amanha, junto com a Primavera onde tudo floresce e renasce, começa o novo ano.
Nao apenas no Irao, mas em vários outros países onde o império Persa - o maior império da História da Humanidade - teve influência.
Celebra-se há mais de 3000 anos, é um calendário muito mais antigo que o nosso ocidental.
Por isso façam as vossas resoluçoes de ano novo e sejam felizes!

Desejo-vos a todos um excelente e renascente Ano Novo!

20 de março de 2011

Depois do jantar na casa dos sogros

I - Amor deixa lá estar nas notícias que estava o Sócrates a falar e a seguir vai falar o Passos Coelho.
J - Mas Amor estao nas entrevistas rápidas! - era o fim do jogo do Sporting...
I - Já vimos que empatou, nao interessa mais, muda lá outra vez.
J - Va deixa-me só ouvir mais este.
I - Va láaa, dá cá o comando! - e começamos a lutar pelo comando.
J - Oh Amor é só mais um boc... (silêncio) ... Consegues ver algo de errado nesta situaçao?
I - Sim!... - riu-me
(pausa)
J - Traz-me uma cerveja!

Partimo-nos os dois a rir, nao ouvimos as entrevistas rápidas e quando mudamos as notícias políticas também já tinham terminado.

É por momentos assim que Amo a minha namorada!

Um companheiro d' "O Idiota"

Alargando o tema do Tempo, dando-lhe mais uma perspectiva:

"Lembrava-se que olhava com muita fixidez para esse telhado e para os raios que lançava. Nao podia desviar os olhos dos raios, parecia-lhe que esses raios eram de uma nova natureza, que dentro de três minutos se fundiria de alguma maneira com eles... O desconhecido e a repugnância pelo novo que ali vinha começavam a ser terríveis; mas ele disse-me que nada era mais grave naquele momento que o pensamento constante:  "Se fosse possível nao morrer! Se fosse possível fazer voltar a vida - que infinito! E tudo isso seria meu! Entao, tornaria cada minuto numa eternidade, nao perderia nada, contaria cada momento, nao gastaria nada inutilmente!" Disse que esse pensamento se lhe transformou numa raiva tal que só queria que o matassem o mais depressa possível.
O príncipe calou-se de repente. Todas ficaram à espera que ele continuasse e avançasse para uma conclusao.
- Já acabou? - Perguntou Aglaia.
- O quê? Sim, acabei. - disse o príncipe saindo da sua meditaçao.
- Mas porque contou tudo isso?
- Por nada... lembrei-me... levado o fio da conversa...
- É muito incoerente - observou Aleksandra -, o príncipe, pelos vistos, quis deduzir que nao se pode avaliar nenhum momento da vida a copeques, e cinco minutos, às vezes, valem mais que um tesouro. Tudo isso é louvável, mas, desculpe, quem é esse seu companheiro que lhe contou esses horrores?... E se lhe mudaram a pena, ofereceram-lhe por conseguinte essa "vida infinita". O que fez ele entao com essa riqueza? Viveu ou nao "contando cada minuto"?
- Oh, nao, ele próprio mo disse, porque eu fiz-lhe essa mesma pergunta... que nao, que de modo nenhum viveu desse modo e que perdeu muitos, muito minutos.
- Pronto, aqui está a experiência de que é impossível viver "contando cada minuto". Por qualquer razao, é sempre impossível.
-Sim, por qualquer razao, é impossível - repetiu o príncipe -, a mim também parece que é impossível... Mesmo assim, nao consigo acreditar.
- Ou seja, pensa que vai viver de modo mais inteligente que os outros? - perguntou Aglaia.
- Sim, isso às vezes também me passava pela cabeça.
- E continua a passar?
- Continua - respondeu o príncipe olhando Aglaia com o mesmo sorriso manso e até tímido; mas logo voltou a rir-se e olhou para ela alegremente.
- Que modéstia! - disse Aglaia quase irritada."

Em O Idiota de Dostoiévski

18 de março de 2011

Nora

Há pessoas que só por existirem já mereciam uma estátua.

Já escrevi aqui antes sobre a Nora quando falei das Filipinas e de Fernao de Magalhaes.
Nora é a senhora que passa o dia a limpar os corredores, as escadas e as salas da Otto Bock. Como Filipina que é tem um ar asiático; de olhos rasgados, estatura baixa e semblante humilde, tem uma tez morena e cabelo negro como carvao que até há pouco lhe caia sobre os ombros mas que agora lhe assenta curto na calote e apenas de passagem toca o atlas.
A esta senhora, que mais parece uma menina, tanto em fisionomia como em pose - senao tentem dizer-lhe "Fica-te bem esse corte de cabelo Nora!" e é vê-la diminuir ainda mais de tamanho, rir-se embaraçada e encolher-se envergonhada, erubescer e ficar calada -, a esta senhora, repito, faleceu-lhe o marido há cerca de 6 meses.

Ha uns dias atrás, estava eu e a minha colega Manuela, na Silicone House e entra ela, com um ar muito envergonhado e diz hesitante: "Bem... queria... ... hum... é que... - e neste momento estamos os dois muito expectantes - é que queria... hum... queria convida-los para um almoço!" Ficamos um bocado boquiabertos! Nem a disposiçao económica ou a íntima fazia prever tal convite, mas nem por sombras, nao a Nora, um doce de pessoa, se nos ocorreu contestar. Percebi mais tarde que era tradiçao... nas Filipinas, 40 dias - neste caso ela sentiu-se preparada para tal mais tarde - depois da morte de um ente querido é normal fazer-se uma festa de despedida, porque nestes 40 dias se considera que o espírito do falecido ainda está na Terra, depois disso deixa completamente este mundo.

Pouco se falou deste almoço depois do convite, sendo que pouco é exactamente: "Bem... é um convite, mas claro que a Nora nao nos vai pagar o almoço nao é!", e foi isto.

Pois o almoço foi hoje.
Era um bom restaurante, italiano, e comi - como se como sempre nos restaurantes espanhois - um primero e um segundo prato, mais o postre e o café, menu diário digamos. Mas na verdade só me apercebi da dimensao do almoço ontem, quando recebi um e-mail da recepçao da Otto Bock - que costuma encarregar-se destas coisas - com a lista de convidados e perguntando se alguém dos confirmados nao ia esta presente... ... a lista era enorme!!!... Estava praticamente toda a Otto Bock Ibérica incluída, salvo algumas faltas por motivos maiores.
Esta senhora das limpezas, convidando pouco a pouco, um a um e com tempo, juntou toda uma empresa para almoçar... tarefa que outros outras vezes tentaram, com grupos menores, e nunca conseguiram...

Almoçamos, brindamos, houve discursos, mais brindes, memórias, fotos, conversas, de tudo o que um almoço de convívio tem. E no fim, apesar da insistência da Presidente a Otto Bock Ibérica, repito, da Presidente da Otto Bock Ibérica, esta senhora de pouco mais de 70 anos, que pouco mais de metro e meio deve medir, que limpa todos os dias o chao da Otto Bock, de tez morena e trejeitos humildes disse: "Nao obrigado, mas insisto que seja eu a pagar!", e pagou a conta.

E se isto nao é de uma grandeza e de um exemplo de dignidade extrema, eu nao sei o que será.

17 de março de 2011

Tempo

O espaço era o ISCTE, o tempo: 2 anos atrás - o contexto era a última aula de inglês e o tema era: "O que é mais importante para vocês?"

A pergunta havia sido feita pelo professor! Licenciado em Economia, de fisionomia inglesa, face rosada, calvo com um razoável investimento no abdómen. Havia nascido em Botswana há quase 80 anos atrás.

"O que é que têm de mais importante na vida?" - Perguntava.

"Saúde" dizia uma mulher duas cadeiras o meu lado esquerdo.
Uma mae da cabeça aos pés, cabelo apanhado como quem acorda de manha para levantar os filhos e segue o dia sem parar, nao tem tempo nem para se olhar ao espelho e dizer "Hoje estás mais bonita!"... de t-shirt larga e calças de ganga como que para disfarçar as sobras que os anos foram deixando.
"Família" dizia outra mulher do meu outro lado. Esta um pouco mais moderna mas de trejeitos inseguros, hesitante, de maos em cima da mesa, uma sobre a outra como que protegendo, junto ao corpo, nao fosse sair dali algo menos bom.
E assim fomos todos dizendo o que era mais importante para nós, ora repetindo ora inovando.
Revelo que disse "pequenos momentos"! Foram estas as minhas palavras "pequenos momentos"; como o que de mais importante tenho na vida. Houve um pequeno silêncio na sala depois do ter dito, o professor olhou para mim e disse "Gostei da sua resposta" E escreveu-a em grande no centro do quadro.

Fomos analisando cada uma das importantes coisas que temos na vida até que o professor, pessoa que durante todo o curso havia já dado infinitas provas de uma agudeza intelectual evidente, disse:

"Pois a coisa que eu tenho como mais importante na minha vida é o Tempo!" - escreveu "Tempo" ao lado de "pequenos momentos" e continuou mais ou menos assim - "O Tempo é o mais importante que temos na nossa vida! Sem ele, nao há saúde, família ou amigos que possam ser desfrutados! O tempo é algo que nao podemos nunca comprar, tenhamos todo o dinheiro do mundo! Nao o podemos emprestar, ou ganhar... O tempo que passa nao volta! Precisamos de tempo para tudo, e a forma como o usamos é da nossa inteira responsabilidade. Como é que vocês usam o vosso tempo?"

Silêncio de novo.
"Boa pergunta!" pensei "Como é que eu uso o meu tempo? ... Faculdade, família, namorada, séries, livros... Nao contesto a familia ou a namorada, que aliás nao sao dois grupos mas um, mas... tudo o resto... uso eu bem o meu tempo? O único que tenho? ... Vale a pena gasta-lo a ver vídeos no youtube?..."

A aula tinha continuado, no mesmo tema, com divagaçoes e aprofundamentos, partilha de conhecimentos e saberes que ficam registados mas que dificilmente se exprimem, antes passam a condicionar a nossa conduta sem que o entendamos ou nos preocupemos sequer em entender... às vezes nao é preciso entender porque funciona a máquina, desde que funcione bem! E tantas vezes nos poem mais uma roda dentada ou oleamos mais um pouco sem que nos apercebamos.

Procurei voltar à aula mas aquele pensamento de um sénior - e por este motivo também fácil de justificar - nao me deixou voltar a lado nenhum, nunca mais!

O Tempo é para mim realmente o que de mais precioso tenho e com ele quero fazer 1000 coisas! 1000 coisas bem feitas.

E vocês... o que farao, e o que fazem, voces com o vosso tempo?

Seminário sobre cuidados na pré-amputaçao

M para I - Igor viste a Manuela? Para começar-mos!
I para M - Epa nao, nao a vi!
I para A - ¿A sabes donde está Manuela?
A para I - No, ¡no la he visto!
A para F - Sorry, we are just waiting for a colleague.
F para A - Ok, there is no problem!
N para F - Sie muss kommen, 5 minuten.
F para N - Ja, kein Problem!

Assim se conversa muitas vezes na Otto Bock!

16 de março de 2011

Há dias assim

Sabem o que é trabalhar-se numa prótese durante 1 mês e meio e chega finalmente o dia da entregar ao paciente e este a destroçar num minuto inteiro de reclamaçoes?

É horrível!

A cor está clara, as unhas têm pouca cor, o pulso está fino, a mao está gorda, aqui está demasiado redondo, os dedos estao demasiado separados, demasiado longos, as unhas deviam estar mais para cima, o limite nao está como eu quero, nao gosto dos sinais, a prótese parece morta...

Completando que as reclamaçoes vinham do marido da paciente e nao da própria paciente, nao ajuda!

Podiamos até concordar, depois de ver o produto final e voltar a ver a paciente 1 mês e meio depois, que alguns detalhes podem ser melhorados, é normal alias... estas próteses sao também esculturas e nunca poderao ficar e-x-a-c-t-a-m-e-n-t-e iguais! Mas bastante parecidas sim!

De todos os modos nao foram estas críticas que mais me afligiram. Muitas podem ser corrigidas (apesar de achar que muitas nao têm sentido de ser).

O que me afligiu foi que a paciente em si, a esposa nao estava assim insatisfeita com a prótese, mas porque o marido estava passou a estar também! Pior... a dada altura o marido diz: "Que desilusao, nao gosto dessa prótese!" e neste momento começa a mulher a chorar... e diz "Eu nao posso fazer nada, dependo dele para tudo. Se a prótese está morta eu morro com ela!"

E neste momento cai-me tudo no chao!
...
Volto a perceber a importância do meu trabalho, a responsabilidade que impoe e as expectativas que gera.

Na minha opiniao o trabalhado estava muito bem feito e sim, sem dramas, podia mesmo assim ser melhorado, uns toques finais com a paciente ali... o dramático desta situaçao foi presenciar a dependência desmedida da mulher para com o marido e a forma como este - inconsciente acredito - destruía a sua auto-estima! A mulher projectava-se claramente na prótese e sente ainda demasiado, e de forma exagerada, a sua perda, a sua incapacidade.

Enfim:
Discurso assertivo... e procurar ser concreto... "está tudo mal?... ... Diga-me por favor o que acha que pode ser melhorado, para que possamos melhorar?", "Preciso de uma fita métrica para confirmar medidas!", "Vamos comparar bem as cores", "Concordo consigo, vamos melhorar isto!", "Vê, afinal consegue fazer isto também, muito bem!", e por aí em diante ora falando com um ora com outro...
Separar o marido da mulher procurar entender o que desejava realmente a mulher, ouvi-la, ouvir também o marido, já que depois vai influenciar, acalmar os nervos, diminuir as expectativas, trazer à realidade... existe uma incapacidade sim, mas nao é o fim da vida e a verdade é com treino e experiência mal a vai sentir... ...

Assim se passou uma manha que destroçou o resto do dia... ... Há dias assim!
Aproveitando e completando o post de ontem... hoje ao almoço:

I - Tenho aqui este pao que trouxe de Portugal, chama-se broa e é de milho! Já foi comprado no sábado nao é de hoje! Nao queres provar? Às vezes mergulha-se mesmo em azeite para se comer!
C - Deixa-me provar... ... gosto muito, muito bom! (pausa) Mas bem... de Portugal eu gosto sempre de toda a comida!

15 de março de 2011

Os Espanhois e a Língua Portuguesa!

Vou tentar desmistificar um mito!
Os Espanhois, nao percebem, realmente o Português, ponto!... a sério... alguma excepçao pode haver, mas nao é má vontade, eles simplesmente nao percebem.
É como ir um Francês a Portugal e pôr-se falar... epa uma coisa ou outra, mas no essencial perde-se a mensagem.

Um dos meus professores de Espanhol, em Portugal (ele era Espanhol) explicou-me porquê:
Está claro que o Português e o Espanhol derivam principalmente do latim e que sao ramos que já tarde derivaram, de qualquer modo, o Português sempre se manteve mais antigo, sempre conservou mais palavras, muitos mais sons, e estilos (ifens, acentos, sufixos e prefixos, etc) e o Espanhol simplificou-se mais, pelo que quando falamos os Espanhois nao nos entendem!

Exemplo simples:
Um Espanhol chega a Portugal e diz: Puede cambiarme diñero?
Só com muita má vontade nao percebemos que ele quer trocar dinheiro. As palavras e o som sao-nos familiares!
Agora um Português em Espanha a dizer o mesmo: Pode-me trocar dinheiro?
Vai ter problemas...
1º as vogais dos Espanhois sao sempre abertas, eles só têm "á, é, i, ó, u", ao passo que nós temos "a, á, a (com til... ja vos contei do meu problema...), ê, é, i, ó, ô, o (til), u" e outras variantes pequenas, lembro-me alias de ter lido que tinhamos 4 a's e isso é realmente extraordinário para uma língua. O Português é, pelo que tenho percebido, das línguas mais ricas da Europa no que respeita à fonética e sobre isso devemos ter orgulho. É aliás por isso que falamos com muito pouco sotaque outras línguas (o caso mais claro e comum é o Inglês. Percebe-se perfeitamente quando um Espanhol, Francês ou Italiano o falam, mas nao um Português).
Entao o "Pódê" começa a baralha-los.
2º O "-mê trucar" deixa-os perdidos completamente e nem vale a pena tentar explicar-lhes.
3º "Dinhââiru" como lo dizemos é chinês para eles!

No outro dia uma colega Portuguesa levou Bolo Rainha para eles provarem... pediram-me para que lhes ensinasse o nome, mas quem é que os punha a dizer "Bôlu RâíNHâ"? Impossível!

Nao estao habituados aos sons e as palavras muitas vezes já nao as têm no seu vocabulário!

Uma colega de trabalho ja me confessou a frustraçao de tentar falar com Portugal ao telefone e saber que a entendem perfeitamente mas ela nao entende os Portugueses.
E hoje tive uma paciente de 76 anos com o seu respectivo de 80 que comentavam como era bonita Lisboa e Belém e os pasteis que bons eram e outras cidades e a dada altura rematam "E é que entendem tudo o que dizemos, na verdade nós nao entendemos muito bem quando falam connosco, mas os Portugueses entendem-nos!"

Por isso gente... para que continuemos com a nossa boa imagem de gente hospitaleira, façam lá o esforço, falem um Portuñol (ou um Espanheguês), e deixem os Espanhois ir para casa contentes e a falar bem de nós, porque no fim, garanto-vos, sempre falam.
Como todos os outros aliás!

14 de março de 2011

MILeuristas

Este fim de semana dei uma escapadinha a Portugal! E foi mesmo uma escapada, porque nao era suposto, mas como vinham uns amigos Finlandeses visitar Lisboa senti-me na obrigaçao de os receber, já que tinha insistido tanto, antes, para que viessem.
Visita turística à parte - que acresce sempre ao nosso conhecimento as diferenças entre ambos os países quando ouvimos "Pois na Finlandia nao temos nada disto... ou aquilo.... ou nao é bem assim, ou é melhor, ou é diferente...." - dei por mim no meio de uma manifestaçao! Eu e eles, mas lá os tranquilizei que somos sempre um povo muito pacífico, apesar de tudo!

Fiquei contente por entender que afinal até somos capazes de sair há rua, mostrar alguma uniao enquanto gente Portuguesa e fazer ver que nao estamos contentes com o que se passa e queremos alguma mudança!

O problema é que... bem eu acabo por estar mais ignorante que a maioria, nao vejo tv e leio poucas noticias... mas houve alguma revindicação concreta?
Eu acho que este protesto podia ser a voz do mundo inteiro quase... e se pensarmos nele assim foi extraordinário, mas... acho que nao foi essa a intençao, acho!

Ouvi chamar vários nomes ao Sócrates - e para aqueles que dizem que eu o adoro, devo confessar que a meu ver, na verdade, ele tem deixado bastante a desejar nestes ultimos meses... digo isto como um desabafo triste... porque sempre o achei um tipo de coragem, apesar de tudo, mas acho que nao tem tido a suficiente... - mas nao ouvi assim propostas concretas!
Já sei que a profissao de motorista em Portugal é a menos grata neste momento porque só leio e vejo noticias (das poucas é verdade) a protestar - na minha opiniao e bem é verdade - contra os muitos motoristas dos ministros e deputados. Mas.... quer dizer.... nao é só parando com essas mordomias, que custam dinheiro mas tambem nao custam taaantoo dinheiro, que o país vai lá!
Acho que é preciso ser mais crítico, pensar um bocado antes de falar e entao depois agir!

Eu repito, acho que quem saiu para a rua - eu próprio fiquei contente por poder estar lá no meio repito... - teve toda a legitimidade para o fazer.
Acho também que - era o que eu faria se fosse Primeiro Ministro - os ministros teriam toda a legitimidade de sair para rua, no dia seguinte, com cartazes como "Use os transportes Publicos", "Recicle", "Nao fuja ao fisco", "Denuncie quem foge ao fisco", "Nao seja cúmplice", "Use as lâmpadas ecológicas que nós lhe damos gratuitamente", "Tenha brio na sua profissao", "Sirva os demais como exige que o sirvam a si", "Seja compreensivo", "Entenda o bem-maior", "Seja voluntário", "Sirva a comunidade"!

Acho que ambas as partes teriam legitimidade para tal!

E se é para protestar que se proteste todos os dias, apresentando soluçoes!
Acho que andamos um bocado adormecidos e deixámos isto andar até um ponto de ruptura social e ignorância de espírito que aflige.

Os jovens espanhois - verdade também que nao de forma mais crítica ou consciente que nós, parece-me - andam a queixar-se porque sao a geraçao dos Mileuristas... deu-me vontade de rir quando o percebi... porque nao só nunca lá chegámos como deixámos que descesse aos Quinhentoseuristas para finalmente dizer basta!


Intenta este post nao mais que alertar algumas consciências para a situaçao de ruptura, repito, que vivemos em Portugal!

Realmente, basta de meias medidas, basta meias conversas e meias acçoes!


...


Realmente, basta de meias medidas, basta meias conversas e meias acçoes!


...


E a minha pergunta agora é: quando leram esta frase em itálico acima pensaram em voces mesmos... ou no Sócrates? Como dizia o outro... vale a pena pensar nisso!




PS - nao posso nao salientar que, de facto, eu próprio, nao apresento grandes soluçoes neste post... nao o faço porque acho que podia dedicar um blog só para isso, para explorar todas as que penso (sendo viáveis ou nao), e porque este post nao pretende impor mais "motoristas malfadados" na cabeça de ninguém mas antes servir para que alguns sejam mais auto-críticos no seu papel na nossa sociedade Portuguesa!

10 de março de 2011

Provérbios 6

É mais uma pergunta retórica que um provérbio, mas nao deixa de ser um conhecimento popular... este vindo da Escócia.
Foi-me dito por um Ortoprotésico PhD que se dedica exclusivamente a fazer próteses para animais, aquando outro PhD (este em Biologia Neuronal ou algo que o valha) me perguntava se eu queria um copo do whisky estupidamente caro que o primeiro tinha oferecido ao segundo. Ao ver a minha cara de "epa eu ate queria mas se calhar dizer que sim parece mal", o Escocês vira-se para o Biólogo e diz:

Do bears shit in the woods?

E eu bebi realmente o whisky!!

8 de março de 2011

Aprender a estar calado!!!


Tínhamos acabado de estacionar o carro e dávamos os primeiros passos pela visita turística a Göttingen. "A" é a Product Manager da Silicone House Alemanha e era a nossa cicerone:

I - So.... is this a Christmas Tree? - Rindo
A - No... no, no... no! This nothing like a Christmas Tree... this is a monument in honor of the Jews who died here in the Holocaust!!

...

Agora pensem no buraco mais pequeno e longuínquo que possam imaginar - assim nos confins da Terra - ... pensem que esse buraco está roto... e que depois desse furo está um buraco negro... foi aí mesmo que me quis meter...... ai eu!!!!

7 de março de 2011

As coisas que se descobrem quase por acaso:

Tarantella Napoletana

É isto que se ouve quando numa festa de despedida de um Iraniano, com Franceses, Cubanos, Alemaes, Portugueses e metade Portugueses, Coreanos e Espanhois, se pede a um Italiano que ponha música tradicional do seu país:



Engraçado como em situaçoes especiais se pode mesmo sentir uma cultura só por ouvir a sua música... quase se entende os seus costumes, se saboreia a comida e se sente a energia que libertam.

Tudo isto foi giro... mas o mais giro foi ver todos estes doutorados - a maioria a fazer o pós-doc - a por as suas músicas e a dança-las... isso sim valeu a pena!!!!...

Engraçado que uns sendo se mostram pessoas, e outros nao sendo se querem mostrar mais!
Assim somos!

6 de março de 2011

O Porteiro da Lei em "O Processo" de Kafka

Gosto de ler bons livros e acabo por nao arriscar muito e ler aqueles que sei que - em princípio - nao me vao desiludir (apesar de ter descoberto um dos melhores livros que já li arriscando).

Terminei agora O Processo do Kafka, e como todos os livros dele... acabei do ler e fiquei desconcertado!

Gostava de estudar estes livros, porque sei que o meu entendimento da sua genialidade é muito limitado.
Isto eu sei, mas de sabe-lo a senti-lo vai uma grande diferença... no fim do livro, um Padre conta uma ilusao a Josef K. (personagem principal). À medida que fui lendo ia pensado (nao pela primeira vez): "Realmente, como gostava de escrever assim!", percebe-se realmente a simplicidade, a genialidade e a alegoria no conto... ou pensa-se que se percebe... porque no fim, os dois discutem as suas interpretaçoes do conto e aí sim... percebo que sou realmente muito ignorante e que a minha capacidade de entender estes escritores ainda está muito limitada... fazem realmente parte dos imortais!
A ilusao deixo-a aqui transcrita - acho que o sr. Kafka nao se importa -, as interpretaçoes quer do Padre quer do K. ficam para quem quiser ler o livro.

Em frente da Lei está um porteiro; um homem que vem do campo acerca-se dele e pede-lhe que lhe deixe entrar na Lei. O porteiro porém, responde que nesse momento nao pode deixá-lo entrar. O homem medita e pergunta entao se mais tarde terá autorizaçao para entrar. "É possível" responde o porteiro "mas agora nao pode ser". Como o portao que dá acesso à Lei está, como sempre, aberto, e o porteiro se afasta um pouco para o lado, o homem inclina-se a fim de olhar para o interior. Assim que o porteiro repara nisso diz-lhe, rindo-se: "se te sentes tao atraído, procura entrar a despeito da minha proibiçao. Todavia, repara: sou forte e nao passo do mais ínfimo dos porteiros. De sala para sala, porém, há outros porteiros, cada um deles mais fortes que o anterior. Até o aspecto do terceiro guarda é para mim insuportável". O homem do campo nao esperava encontrar tais dificuldades; "A Lei devia ser sempre acessível a toda a gente", pensa ele; porém, ao observar melhor o porteiro envolto no sei capote de peles, o seu grande nariz afilado, a longa barba rala e negra à moda tártara, acha que é melhor esperar até lhe darem autorizaçao para entrar. O porteiro dá-lhe um escabelo e diz-lhe que se sente ao lado da porta. Durante anos ele permanece sentado. Faz numerosas tentativas de ser admitido e fatiga o porteiro com os seus pedidos. Aquele, de vez em quando,  faz-lhe perguntas sobre a sua terra e sobre muitas outras coisas mas de uma maneira indiferente, como fazem os grandes senhores, e no fim diz-lhe sempre que ainda nao pode deixa-lo entrar. O homem, que proveu de amplos meios para a sua viagem, emprega tudo, por mais valioso, para subornar o porteiro. Este, com efeito, aceita tudo, mas diz: "só aceito o que me dás para que nao julgues que descuraste alguma coisa". Durante todos aqueles longos anos o homem olha quase ininterruptamente para o porteiro. Esquece-se dos outros porteiros; parece-lhe que o primeiro é o único obstáculo que se opoe à sua entrada na Lei. Amaldiçoa em voz alta o infeliz acaso dos primeiros anos; mais tarde, à medida que envelhece, já nao faz outra coisa que nao resmungar. Torna-se acriançado e, como durante anos a fio estudou o porteiro, acaba também por conhecer as pulgas da gola do seu capote; assim, pede-lhes que o ajudem a modificar a atitude do porteiro. Por fim, a sua vista torna-se tao fraca que já nem sabe se escurece realmente à sua volta ou se é apenas ilusao dos seus olhos. Agora, porém, lobriga, no escuro, um fulgor que, inextinguível, brilha através da porta da Lei. Mas ele já nao tem muito tempo de vida. Antes de morrer, todas as experiências porque que passara durante este tempo convergem para uma pergunta que, até essa altura, nao formulara. Faz um sinal ao porteiro para que se aproxime, pois o entorpecimento que o domina já nao o deixa levantar-se. O porteiro tem de curvar-se profundamente, visto que a diferença de alturas se modificara bastante. "Que queres tu ainda saber?", pergunta o porteiro, "És insaciável". "Se todos aspiram a conhecer a Lei" , diz o homem, "como se explica que durante estes anos todos ninguém, a nao se eu, pedisse para entrar?" O porteiro reconhece que o homem já está perto do fim e, para alcançar o seu ouvido moribundo, berra: "Aqui, ninguém, a nao ser tu, podia entrar, pois esta entrada era apenas destinada a ti. Agora vou-me embora e fecho-a."


Gostava de escrever um livro - vários aliás - ler estes (des)motiva-me!

Mas bem... agora estou indeciso, tenho aqui 3 para ler:

Ensaio sobre a Lucidez - José Saramago
O Idiota - Fiódor Dostoiévski
Six Thinking Hats - Edward de Bono

Que me aconselham? Nao sei mesmo, por motivos diversos quero ler ora um ora outros!
E "se eu nao morresse nunca e eternamente buscasse e conseguisse a perfeiçao das coisas"?

1 de março de 2011

Provérbios 5

Esta semana vou ter de estar um bocado mais ausente... o trabalho assim o exige!
Mas deixo-vos um ditado aqui da zona de onde vos escrevo:

Tudo tem um fim... mas a salsicha tem dois

Boa semana!