25 de abril de 2012

A Pos-Graduaçao em Oxford e o Operador Telefónico da Vodafone

Desde que comecei a pós-graduaçao que me perguntam várias vezes "como é estudar em Oxford?", ou "que diferenças vês no ensino?" ou perguntas parecidas.

A primeira diferença é, com certeza, o preço! Barato nao é, e pagando em libras menos ainda... é uma diferença importante que, no entanto, foi a que me fez ousar a candidatura.
Lembro-me de uma conversa com um amigo que se doutorou em Cambridge, falavamos da continuaçao dos meus estudos e enquanto nessa altura essas universidades ainda me pareciam inalcansaveis ele dizia-me que: se tinha o dinheiro para poder pagar ou o contexto para aceder a uma bolsa, para me candidatar: "Candidata-te, vais ver que entras!" E entrei!
Na cabeça punha uma barreira que nao existia e nao via sequer outras que apesar de terem de ser ultrapassadas eram mais pequenas.

Desta diferença normalmente nao falo, mencionei-a aqui apenas para também eu reforçar o cliché verdadeiro de que nao há maior barreira que aquela que nos impo-mos a nós mesmos e que tentando (atençao que aqui mudo a banalidade e escrevo tentando e nao acreditando) os sonhos tornam-se realidade.

As verdadeiras diferenças que vejo no ensino em Oxford, em comparaçao com aquele que conheço em Portugal, sao duas: o sentido practico e útil dos trabalhos e ensino e a consciência económica dos mercados.

Os meus primeiros trabalhos foram 1 a revisao e melhoria de um artigo da Wikipedia e 2 uma carta ao Ministro da Economia de Portugal sobre várias questoes importantes que emergem com o surgimento e desenvolvimento da Nanotecnologia no nosso país (quando terminar a PG e tiver tempo para traduzir a carta do Inglês envio-lha). Como Cientista tenho de ter a consciência de ser pro-activo com a sociedade e participar na sua educaçao e desenvolvimento. Longe vao os trabalhos que se escrevem, faz-me um powerpoint com umas animaçoes giras e deixa-se arrumado numa pasta que se perde pelo computador, nao, aqui ninguém trabalha para aquecer, tem de haver um outcome real e prático além do conhecimento adquirido.

Depois, isto da Ciência e da busca do conhecimento é muito bonito, mas se nao gerar riqueza nao é muito útil para a economia e consequentemente para o país.
Se calhar, estudar a correlaçao entre a ingestao de amendoins e o crescimento das unhas dos pés nao é muito útil (a menos que possuam uma plantaçao de amendoins, aí talvez!), mas mesmo que se queira demonstrar uma nova tecnica para a produçao de átomos artificiais para aplicaçoes electrónicas é preciso entender que mercado vai ser abrangido, que utilidades vai ter essa investigaçao, que postos de trabalho pode gerar, que crescimento económico pode permitir.
Entender que as ideias têm um valor que deve ser comercializado, que os custos devem ser racionados, que a inovaçao é o unico caminho para o crescimento sustentado é uma nota presente em todos os trabalhos que faço.

Estas sao as duas principais diferenças que encontro.

Outra, possivelmente obvia mas dificil de explicar sem se viver, é a exigência!
Tem sido uma liçao de humildade, eu vinha habituado a ter boas notas, a entender tudo o que estudava, a ser inteligente... Pois nada disto acontece mais, nao tenho boas notas (apesar de em minha defesa alegar que 1 trabalho mais de 8h por dia 5 dias por semana e depois disso venho estudar e 2 fomos repetidas vezes avisados que notas acima de 75% sao muito muito raras e representam Excelência), nao entendo tudo por muito que estude e sinto-me realmente muito ignorante quando estou em conversa com alguns dos meu professores, que por sinal, trato pelo primeiro nome: "Ola Pete, tudo bem?".

Por este motivo acho que sou uma pessoa muito mais exigente comigo mesmo e com os outros.
Mais do que o que aprendo sobre Nanotecnologia, aprendo como cidadao e em como ser bom nao chega, é preciso ser, pelo menos, muito bom! Nao falo de inteligencia ou capacidades extraordinárias, falo de trabalho, de vontade, de dedicaçao... estes sao valores que quando sao bons ainda sao pouco, nestes devemos tentar ser excelentes, e nao é fácil, nao é nada fácil!

(E o Operador Telefónico?)

Outro aspecto sobre a minha forma de ser e agir é que eu tenho um grave problema de falta de memória, quem me conhece sabe que é verdade, eu tento corrigir mas já nao é defeito, é feitio, ou pelo menos assim o tento justificar quando me esqueço dos anos de amigos, ou de comprar o pao.
Mas eu tento combater este problema (sim eu já passei a primeira fase e já o admiti como problema, a segunda é que está a ser mais dificil), e uma das coisas que faço para exercitar a mente (apesar de nao ter muito claro se é verdade que se exercita destas formas) é ter códigos pin, multibanco, palavras-chave e afins diferentes em tudo o que é sitio de ter estas coisas. Motivado por questoes de segurança, naturalmente, nao cedo ao comodismo e como forma de aliviar a culpa de alguns esquecimentos (e quizá exercitar mesmo a mente) obrigo-me a decorar todos estes numeros, caracteres e letras.

O problema está, por exemplo, quando me esqueço do pin de um dos telemóveis... como aconteceu da ultima vez que fui a Portugal e descendo do aviao com pressa... bloqueei o telemovel... e se para saber o pin é dificil, imaginem o puk! Uma nota interessante (e mais deprimente...) é que já uma vez me tinha esquecido deste pin, mas a esforço  nessa altura lá o relembrei, desde entao mudei-o para igualar a outro código, reduzindo a quantidade de códigos que tenho na cabeça, mas esqueci-me também deste novo que escrevo igualmente noutras circunstâncias...

Tive de ligar para a Vodafone para ver se me podiam dizer o puk.
Já uma vez tinha ligado porque à minha avózinha lhe tinha passado o mesmo ( masela tem quase 70 desculpas para isso, eu nao!) e já conhecia o procedimento, dizer o pin original, se nao soubesse dar outros dados como o nome do portador e a data e valor dos ultimos carregamentos (como é que eu me lembro disto???). Ia preparado para a segunda opçao claro!

Atende-me um rapaz bastante simpático, explico-lhe o que me aconteceu e ele pergunta-me o pin inicial do cartao, ao que eu respondo automáticamente depois de segundo e meio de hesitaçao 3272!
"Exactamente Sr. Igor, tem sitio para anotar o puk?"

Ãh???!!!

Mas como é que eu sei isto? Que raio de cérebro é este que gosta de me pregar partidas estranhas?

O rapaz ainda me disse que podia aceder a esta informaçao no site se quisesse, que da próxima nao precisava ligar e confirmou-me que a chamada era cobrada. Despediu-se pedindo que respondesse a duas perguntas rápidas, agradeceu em nome da companhia o contacto e passou-me a chamada à voz feminina impessoal:

"O seu problema foi resolvido? Responda Sim ou Nao!"
-Sim

"Com base na qualidade desta chamada recomendaria a Vodafone aos  seus amigos e familiares?"
Tinha de classificar de 0 a 10 e aqui hesitei uns 2 ou 3 segundos. Neste tempo pensei nas estatisticas que iam ser apresentadas seguramente na televisao, em como eu nao recomendo um operador telefónico baseado numa chamada e em como a chamada me tinha custado dinheiro (acho bem que se cobre por causa dos engraçadinhos, mas antigamente a Vodafone devolvia o dinheiro se a causa fosse verdadeira).
Com a pressa de terminar a chamada que outras coisas mais interessantes esperam sempre (ainda que raramente saibamos de quê ou para quê temos pressa, como é o caso se o penso agora) carreguei no 6 e desliguei a chamada.

"Tu deste-lhe SEIS???" disse indignada a minha namorada que estava encostada no meu peito e ouviu a conversa!
"Entao!?"
"Ele foi super simpático, resolveu-te o problema em meio minuto e das-lhe 6??"

E teve a meia hora seguinte a dar-me na cabeça!... Para isto servem as namoradas!!

Tentei justificar que estava a avaliar a Vodafone nao o rapaz, que a partir de 1 "já recomendaria qualquer coisita", 5 era bom e 6 já era um nota realmente positiva! Mas no fundo... ela tinha razao, ou pelo menos convenceu-me disso (nao é isso que fazem as namoradas!!!).

___

Realmente, vejo que sou uma pessoa muito mais exigente com os serviços que uso, com as pessoas com quem trabalho e comigo mesmo, porque vejo que posso ser/dar mais se assim for exigido.
De qualquer forma, o exigido foi cumprido, e o rapaz merecia à vontade, e pelos mesmos critérios, um 7 e bem disposto um 8 (acho que para a namorada nao vai ser suficiente, mas já me dirá!)

___

Depois de escrever, reler e pensar sobre este post vejo que é importante para mim porque de uma vez só solucionei várias questoes:

Primeiro a minha necessidade de expor o que penso (para dize-lo com palavras bonitas).
A minha mae diz que o meu pai devia ter ido para Padre pelos sermoes (ideológicos) que gosta de dar e eu acho que lhe segui a genética ou o hábito...

Segundo alivio a minha consciência karmica, conceito em que nao acredito mas valorizo (isto é possível?).

e Terceiro resolvo as coisas com a namorada que agora, só para gozar comigo, me tem feito sentir mal pela nota que dei ao rapaz.
É uma querida e é por estas coisas que eu, no fundo e à superficie, gosto muito dela! (estou a ser irónico? Nao! Mas nem Oxford é tao exigente comigo como ela! E eu adoro estudar em Oxford...)