23 de setembro de 2012

Medio Oriente!?

O serao tinha sido passado a tomar chá! Numa mesa redonda olhávamos para a Plaza Castilla e bebericávamos dos pequenos copos comprados em Córboda que ofereci ao anfitreao por ocasiao do seu regresso a Espanha. O chá era do Mercadona, mas pela companhia ou provavelmente pelo doces típicos vindos do Irao, sabia como um verdadeiro chá da Pérsia.

Decorrido o serao animado com vídeos, musica e debates filosóficos e políticos decidimos dar um passeio até às Puertas del Sol, sabíamos que o caminho era recto, só nao tínhamos certezas da linha a seguir.
Ao perguntar aos prestáveis transeuntes espanhóis todos nos diziam que era demasiado para andar! que devíamos apanhar o metro, mas insistíamos em que queríamos andar e entre advertências lá nos explicavam o caminho: "sempre em frente nesta direcçao". O Google Maps diz-me agora que caminhamos exactamente 8.0km, foi um bom passeio que acho que repetiremos!

O objectivo era beber uma caña no destino e assim o fizemos. Naturalmente, a conversa continuou e continuou mais ou menos assim:

A- Igor, aqui na Europa as pessoas confundem muitas das coisas que se passam no Médio Oriente! O caso dos camelos que falamos há pouco! Ouve-se falar em camelos no Egipto e de repente todos os países do Médio Oriente têm camelos, isso é uma coisa do deserto!

I - Sim, é verdade, nós confundimos um bocado essa zona do globo... árabes e muçulmanos, Afeganistao e Paquistao, a antiga Uniao Soviética, para nós é tudo o mesmo.

A - O que é para ti o Médio Oriente afinal?

Fiquei um bocado embasbacado com aquela pergunta! "O que é para mim o Médio Oriente?" - pensei! A primeira resposta que pensei foi, "é tudo o que na Euroasia nao é Europa, Russia, China, Koreia e Japao" e ri-me mentalmente, mas dizer o que "nao é", nao é bem o mesmo que dizer "o que é!" e pensei melhor:

I - Bem... hum... o Médio Oriente é aquela zona entre a Europa e a China...

A - A zona dos árabes? - Interrompeu-me o A.

I - Hum... sim, acho que se pode dizer que sim!

A - Igor, no Médio Oriente tu tens árabes, turcos, persas, judeus... tens uma diversidade cultural e genética muito muito grande!

I - Hindus também! Sim, é verdade! Sao mais diversos em cultura e mesmo geneticamente que os Europeus.

A - Nao falemos sequer na Índia! Apesar dos Hindus serem a maioria a Índia é conhecida no meu país como o país das 72 naçoes! Sabes que se fores para o norte da Índia as pessoas sao brancas, assim como tu, já no sul têm uma pele muito mais escura, é um país com MUITA gente, e muito diverso. E o Paquistao? O que achas do Paquistao?

I - Sao muçulmanos nao sao?, imagino que sejam árabes.

A - Sao paquis! Sao muçulmanos na maioria sim, mas têm uma genética e uma língua muito diferente do árabe.

I - Realmente... nao sabia.

E fico a reflectir em como na Europa também somos maioritariamente cristaos. Mas dentro dos cristaos temos católicos, protestantes, manas, testemunhas de jeová.... e no entanto a nossa genética nao é sequer muito distante! Talvez os latinos sejam diferentes dos norte europeus, mas nao vejo grandes diferenças além desta! Por outro lado, os muçulmanos também se dividem, xiitas e sunitas como as duas ramificaçoes principais que depois se subdividem noutras separadas. Falar da Índia realmente ultrapassa o meu conhecimento... tem demasiado que nao conheço em cultura e religiao. E além de tudo isto, as diferenças genéticas sao mais marcadas que na Europa, um turco nao é um persa, e um judeu nao é um árabe e isto pode, muitas vezes, notar-se pelo olhar apenas!

Ter amigos destes países abre-me uma perspectiva do mundo que nunca tive! É realmente o conhecer de um novo lado prisma. E fico estupefacto com a minha ignorância!

5 de setembro de 2012

Os lideres nascem lideres, ou aprendem a ser lideres?

Uma pergunta frequente nos testes psico-técnicos. Uma pergunta que sempre me deixou indeciso na resposta.
Naturalmente que podemos aprender a ser pessoas diferentes, melhores ou piores conforme as nossas experiências, pelo que, naturalmente também, acho que se pode aprender a ser um bom líder.
Por outro lado, olho em volta e na minha apreciaçao subjectiva acho que existem pessoas que nao teriam a capacidade para liderar bem um grupo nem que o tentassem fazer durante anos. Se essa inadaptidao se deve a um conhecimento por adquirir ou é realmente devida a uma incapacidade comportamental inata nao consigo afirmar com certeza, mas acredito que todos nascemos com alguns traços inerentes de personalidade, pelo que sim, acho que alguns nascem mais propensos a algumas actividades e menos a outras.

Lembrei-me deste tema porque estou a acabar de ler a auto-biografia do Nelson Mandela, como já tinha dido, e chegando ao desfecho esperado começo já a pensar nas primeiras páginas onde retrata a sua infância e faço eu o percurso mental daquela vida... a forma e o meio em que cresceu, os processos por que passou e a forma como se construiu. Penso agora, há distância ilusória de umas semanas de leitura onde percorri a sua vida de mais de 70 anos, que desde pequeno se lhe mostravam esses traços que o distinguia de muitos... uma responsabilidade inerente, uma independência natural e um respeito pelos demais assegurado, boas qualidades para um líder a meu ver.

Gostei do episódio do jogo (luta) do pau que conta, senti-me identificado com estes pequenos episódios de infância que nos recordamos porque representam cada um um momento onde, de um momento para o outro, aprendemos algo. Como se de repente determinado assunto ficasse entendido e arrumado na nossa cabeça.

O Mandela lembra-se de várias lutas do pau, era um bom oponente diz, mas nao gostava quando via algum oponente humilhar o outro, afirma que se pode ganhar sem humilhar e que nunca humilhou um oponente.

Sempre fui, e continuo a ser, uma pessoa competitiva. Gosto quando faço algo bem feito, em igualdade de circunstâncias, gosto de saltar acima da média. Acredito na justiça e portanto só me revejo crédito se vir que todos os que me rodeiam têm as mesmas oportunidades que eu e que partindo todos do mesmo início eu consigo uma boa marca, nao gosto de batotas...

Lembro-me de um episódio, no secundário, onde deixei de estudar na véspera de um teste porque uma colega me disse, em preocupaçao, que nao ia poder estudar naquele dia porque a mae estava doente! Achei que era injusto que eu estudasse, já que ela nao tinha culpa da mae estar doente, e nao estudei nesse dia.

Deste episódio nao tiro grande moral, a nao ser que os adolescentes sao um bocado parvitos!

Dito isto, sei que nao humilho os meus oponentes, a satisfaçao de um bom resultado advém da minha conquista, nao da sua derrota, mas a verdade é que este sentimento, ao contrário da constância e maturidade de Mandela, foi-me aprendido por falhas pessoais em dois episódios recordados, um na minha infância e outro por altura do episódio anterior. Por me manter na mesma época conto o segundo!

...

Nos torneios inter-turmas desta altura a minha turma ficava sempre (nao me recordo nenhuma vez em que nao tenha acontecido) em primeiro lugar: no basket, futebol, voleibol, corfebol, etc, esses desportos que se aprendiam em Educaçao Física.
Antes de uma final de voleibol as duas turmas, todos conhecidos de recreio e até alguns amigos desse tempo, trocavam impropérios sarcásticos mas aceitáveis para a ocasiao. Entre as "bocas", como se diz na gíria, de um lado e do outro, a dado momento eu disse ao capitao da outra equipa, que era um, termo tecnico, "gingao" lá da escola: "Nao sei p'ra que é que vao jogar, sabes que vao perder!", a fama da nossa turma era conhecida e aquele comentário tocou-lhe a fímbria e aguçou-lhe a vontade de vencer.

A tradiçao manteve e entre abraços, gritos, ovaçoes e espera de medalhas o capitao derrotado passou perto de mim para os balneários e foi aí que eu lhe disse 3 palavras das quais ainda hoje me arrependo: "Eu disse-te!"
O que se sucedeu tenho-o gravado na mente e apagou tudo o resto pois nao me lembro nem do jogo nem das medalhas nem de mais nada; com os olhos túrgidos ele deu um passo na minha direcçao e com a mao em riste gritou: "MAS TU ÉS PARVO? ACHAS QUE ISSO SE DIZ A ALGUÉM?", ficamos, 2 segundos talvez, a olhar-nos em cólera e em espanto e ele foi-se embora, fiquei sem palavras.

Estava arrependidíssimo do que havia dito e entre aquela bola na garganta e o sentimento de culpa a hesitaçao do suposto rebaixamento demorou pouco a passar. Fui ter com ele, que estava com outros colegas derrotados e pedi-lhe desculpas pelo que disse, ele tinha razao.

Apesar do arrependimento é capaz de ter sido importante que tivesse acontecido, existem coisas assim, vivendo sao muito mais intensas, e a aprendizagem é muito mais profunda. Acredito ter adquirido uma boa qualidade!